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sábado, 2 de agosto de 2014

"Hannah Arendt" foca nas polêmicas da célebre pensadora alemã.

Cena do filme "Hannah Arendt", sobre a filósofa que acompanhou o julgamento do nazista Adolf Eichmann em Israel. A cinebiografia foca no período em que Hannah escreveu à revista "The New Yorker" para contar o que viu no tribunal. Os relatos foram reunidos em 1963 no livro "Eichmann em Jerusalém", no qual a escritora descreve um dos mais temidos carrascos nazistas, idealizador da "Solução Final", termo que alude ao extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. (Fonte da Imagem: Ensaios Ababelados)

Uma das diretoras mais prestigiadas do Novo Cinema Alemão, pertencente à mesma geração que revelou Wim Wenders e Volker Schlondorff, Margarethe Von Trotta compõe um admirável perfil de uma personalidade e de uma época no drama Hannah Arendt. O filme estreia em São Paulo.
Aliando-se, mais uma vez, a Barbara Sukowa, intérprete habitual de seus filmes, como os premiados "Rosa Luxemburgo" (86) e "Os Anos de Chumbo" (81), a cineasta entrega-se ao desafio de retratar uma das pensadoras políticas mais importantes e influentes do século 20, autora de clássicos como "As Origens do Totalitarismo".
Escapando ao risco de comprometer a narrativa com um excesso de teorias, escolhe como foco um episódio crucial na vida de Hannah. Em 1961, a filósofa alemã, já radicada nos EUA, viaja a Israel para acompanhar um dos julgamentos mais bombásticos de todos os tempos, do carrasco nazista Adolf Eichmann, capturado pelo serviço secreto israelense na Argentina.
Partindo de uma peça da norte-americana Pam Katz, corroteirista do filme ao lado de Von Trotta, a história humaniza por todos sua protagonista, sem banalizar seu pensamento nem sua atividade. Hannah é vista discutindo com seus alunos na universidade, e também com seus amigos intelectuais, em concorridas festas em seu apartamento, em que, ao lado de temas polêmicos, nunca faltavam piadas, nem bebida ou cigarros.
O nazismo está no centro das discussões. Primeiro, na atuação de Hannah, ao cobrir o julgamento de Eichmann para a revista "The New Yorker", que lhe permitiu criar uma das teses mais polêmicas de toda a sua obra, sobre a "banalidade do mal".
O segundo, menos abordado no filme, lembra seu relacionamento com o mestre e ex-amante Martin Heidegger (Klaus Pohl), filósofo que se filiou ao Partido Nazista em 1933 e nunca se retratou da atitude após o fim da Segunda Guerra - para desgosto de Hannah, que era judia alemã e fugiu do país natal após a ascensão de Hitler ao poder.
Enxergando em Eichmann apenas um burocrata medíocre, cumpridor cego de ordens, recusando-se a ver um monstro de índole diabólica, e não se omitindo em apontar o que considerava como cumplicidade dos chamados Conselhos Judaicos na destruição de sua própria comunidade, Hannah atraiu a fúria dos próprios amigos e dos círculos judaicos. Muitos nunca a perdoaram pela ousadia. Para eles, ela estaria "defendendo" o carrasco, o que sempre negou.
Nada disso abalou a filósofa, que publicou seus artigos na "The New Yorker" - onde também sofreu pressões - e, dois anos depois, um livro que teve grande repercussão, "Eichmann em Jerusalém".
Vendeu na época mais de 100 mil exemplares e, ao longo dos anos, serviu como ferramenta para que jovens alemães contestassem seus pais, por terem conhecimento dos desmandos nazistas e se omitirem, e também em revoltas contra a guerra do Vietnã e o uso da energia atômica.
O filme ressalta a coragem de Hannah que, apoiada por amigos como a escritora Mary McCarthy (Janet McTeer), resistiu, mantendo sua independência de pensamento, ainda que a um alto custo pessoal. Os ataques sofridos, para ela, equivaleram a um "novo exílio", como salientou a diretora Margarethe Von Trotta em entrevista ao jornal "The New York Times".
Procurando não tomar partido da tese defendida por Hannah nos artigos e livro sobre Eichmann, o filme sem dúvida abraça a integridade pessoal e intelectual de sua fascinante protagonista. E permite aos espectadores participarem de uma envolvente discussão de ideias, apesar de um filme não ser o veículo ideal para esgotar temas tão profundos. Mas, certamente, pode despertar uma saudável curiosidade sobre as obras da autora.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Após a revolução, resta o problema dos revolucionários.

‘Depois de maio’ (2012), filme dirigido por Olivier Assayas, procura apresentar a trajetória de uma miríade de jovens franceses três anos após a tormenta de maio de 68. A contracultura já disputa a hegemonia com os valores tradicionais de modo acirrado. - Flávio Ricardo Vassoler. (Fonte da imagem: Ne10 - Uol

“Após a revolução, resta o problema dos revolucionários”. Tal máxima (cínica) atribuída ao ditador fascista Benito Mussolini ressoa as contradições pelas quais passam os movimentos revolucionários que conseguiram chegar ao poder. Nesse momento, a acepção etimológica da palavra revolução vem à tona: revolução, o movimento que se volta contra si mesmo. A manutenção do poder pressupõe um refreamento do ímpeto contestatório. Benito Mussolini, leitor de Nicolau Maquiavel, sentencia que, da tomada para a manutenção do poder, a revolução se transforma em Realpolitik. 
O que teria acontecido ‘Depois de maio’ (2012)? O filme dirigido por Olivier Assayas procura apresentar a trajetória de uma miríade de jovens franceses três anos após a tormenta de maio de 68. A contracultura já disputa a hegemonia com os valores tradicionais de modo acirrado. Os revolucionários dos mais diversos matizes – desde os hippies pacifistas até os incendiários Molotov – vivem em suas comunidades alternativas e começam a influenciar sobremaneira a mutação dos valores e práticas ossificados. A princípio, a contracultura de fato parece ter revelado que há sempre praias sob os pisos bem encerados dos shoppings. Crescei e multiplicai-vos: o nudismo e o poliamor fazem com que os amantes usem alianças, simultaneamente, nos anelares esquerdos e direitos. Os cabelos longos e as barbas por fazer já não se preocupam com as entrevistas de emprego. “Estamos ébrios de revolução!” A psicodelia parece romper com o tempo da rotina estrita e heterônoma, o tempo do trabalho. Mas mesmo maio de 68 teve que encarar o dia 1º de junho: segunda-feira. 
O que acontece quando os gritos de ordem espraiados pelas ruas de Paris começam a se transformar em pichações cada vez mais silenciosas? Pichações que precisam ser feitas na calada da noite, uma vez que um espectro ronda a Europa depois de maio, o espectro da polícia. O poliamor e os brados por mais liberdade sexual de fato promoveram uma profunda transvaloração dos costumes em vastas camadas da sociedade ocidental. Mas seria possível entrever uma arregimentação da poligamia pelas atuais casas de swing? Sexo grupal entre quatro paredes com hora, local e preço para acontecer. O swing dá sobrevida à agonizante relação monogâmica. 
O que acontece quando a criatividade psicodélica de ontem começa a municiar a indústria publicitária depois de maio? A contracultura começa a se tornar cotidiana. (O cotidiano, vale lembrar, não foi tomado de assalto pela revolução.) A contracultura começa a se tornar a cultura que dita contra o que os cidadãos devem se postar. Os cálculos de rentabilidade do capital percebem que a contracultura estimula a produtividade dos funcionários que já não precisam vestir gravata e das funcionárias que, vez por outra, nas sextas-feiras, podem descortinar as pernas. O horário de trabalho flexível – faça sua rotina! – remove a figura exterior do ponto que deve ser batido, respectivamente, às 8h e às 18h, para transferir o princípio de coação do horário para dentro de nossas cabeças. O home office transporta o trabalho para dentro de casa, traz a premência do relatório para a escrivaninha ao lado da cama, sonhamos com as planilhas e os planos de meta. Depois de maio, o pesadelo. 
Maio de 68 entoou com novos cânticos o mantra “Louvado seja Deus”: o LSD de fato elevou Hosana às alturas. Jesus Cristo, mais um barbudo esquálido no acampamento de Janis Joplin. Depois de maio, a psicodelia lisérgica dá lugar à felicidade prescrita diariamente por 5 mg de Prozac. Quando a revolução começa a se confundir com a Realpolitik; quando a depressão passa a ser o sintoma socialmente prescrito, ou pior, administrado, Janis Joplin já ocupa o ranking do videoclipe mais badalado pelos espectadores da MTV. 
Que fazem os jovens franceses depois de maio? (Na periferia brasileira do capitalismo, não há dúvidas: em 1968, o Ato Institucional nº 5 decreta que lugar de estudante de classe média é na escola e na universidade; apenas os militares podem exorbitar a lógica dos quartéis.) Os jovens não sabem o que fazer. Como maio via de regra dá lugar a junho, a revolução ainda não conseguiu descobrir a poção de Peter Pan: os jovens terão que trabalhar. Karl Marx terá que aparar a barba, Friedrich Engels voltará a administrar suas empresas. Mas a dor não é facilmente extirpável: para os jovens que efetivamente viveram o prenúncio de uma sociedade reorganizada sobre bases radicalmente outras, a impossibilidade de prosseguir com o ímpeto de maio leva às últimas consequências as mais diversas rupturas. O suicídio tenta cristalizar um passado que já não se pode resgatar – passado que o LSD diz escorrer entre os dedos. As ações revolucionárias – roubos a banco, sequestros e que tais – municiam a propaganda anti e contrarrevolucionária para que o pater familias e a dona de casa continuem a fazer o Pelo Sinal antes do jantar. O mercado de trabalho, ao fim e ao cabo, apresenta-se como o corredor polonês depois de maio. 
Quando a contracultura é apropriada pela reação e passa a rechaçar a revolução – ou pior, quando a revolução transforma-se em espetáculo –, os jovens mais lúdicos encontram fileiras nos bastidores circenses dos filmes de Federico Fellinni; os menos aquinhoados buscam trabalho no entretenimento autoritário de Hollywood; ao fim e ao cabo, os mais pragmáticos endossam o exército publicitário. Os aforismos de outrora viram slogans depois de maio. Nesse sentido, o diretor Olivier Assayas soube captar com a argúcia a nostalgia de Pasárgada: a revolução que poderia ter sido, mas não foi lega cicatrizes e cooptações aos outrora revolucionários que agora precisam continuar a continuar. 
(Fonte: Carta Maior, Flávio Ricardo Vassoler)

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Trinta metros do Muro de Berlim removidos para acesso a condomínio de luxo.

Mesmo depois dos protestos, uma empresa alemã decidiu continuar com a remoção de parte da histórica estrutura na capital alemã.
Uma empresa de construção civil alemã enfrentou diversos protestos no início deste mês por querer transferir parte do Muro de Berlim para um jardim. A deslocação de perto de 30 metros da histórica estrutura foi justificada com a construção de uma estrada de acesso a um futuro condomínio de luxo. Esta quinta-feira, ainda de madrugada, foi feita a remoção dos últimos cinco metros.
Esta não foi a primeira vez que uma decisão semelhante foi tomada, mas deixou os berlinenses indignados por ter como único fim a construção de um acesso a um complexo de edifícios de luxo junto ao rio Spree.
No início do mês, a empresa de construção civil tinha já conseguido retirar 23 metros do muro, mas os protestos dos habitantes fizeram com que o presidente da câmara pedisse para negociar uma alternativa com a empresa responsável pelas obras. Depois de quatro semanas de negociações sem resultados, o responsável pelo projeto decidiu avançar. E avançou “às escondidas”, como disse o líder de um grupo de artistas da East Side Gallery, nome dado à porção de muro de onde foi retirada a secção. “Não acredito que vieram aqui à noite às escondidas. Só vêem dinheiro. Não entendem a relevância histórica e a arte deste sítio”, acrescentou Kani Alavi, citado pelo The Guardian.
A remoção de quase cinco metros do muro foi feita na madrugada de quinta-feira, pelas 5h locais (4h em Lisboa), com a proteção de cerca de 250 polícias alemães. “Se tiram daqui o muro, estão a tirar a alma da cidade”, disse um dos moradores da zona.
O Muro de Berlim começou a ser demolido a 9 de Novembro de 1989. O que restou foi pintado por cerca de 120 artistas. A East Side Gallery é o pedaço de muro mais comprido do que resta do original, com 1,3 quilômetros de comprimento, e é considerada uma obra de arte. Hoje, é o segundo monumento alemão mais visitado em Berlim.

(Fonte: RODRIGUES, Pedro Nunes. Disponível aqui)

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Ministro japonês diz que idosos doentes devem “morrer rapidamente” para o bem da economia.


Os custos dos tratamentos que prolongam a vida a pessoas com doenças sem recuperação são desnecessários para a economia japonesa, defende Taro Aso.

O ministro já veio admitir que as suas declarações foram desapropriadas KIM KYUNG-HOON/REUTERS (Fonte da imagem: Público)

O ministro japonês das Finanças, em funções há cerca de um mês, defende que os cuidados de saúde para doentes mais idosos significam um custo desnecessário para o país e que a estes pacientes deveria ser permitido morrer rapidamente para aliviar a pesada carga financeira que representa o seu tratamento na economia japonesa.
 “Que Deus não permita que sejam forçados a viver quando querem morrer. Eu iria acordar sentindo-me incrivelmente mal por saber que o tratamento era totalmente pago pelo Governo”. A frase de Taro Aso, citada pelo Guardian, foi proferida durante uma reunião do conselho nacional dedicada às reformas da segurança social e ao orçamento para a saúde. As declarações tornam-se ainda mais polêmicas quando o ministro defendeu que “o problema só será resolvido” se deixar os idosos “morrer rapidamente”.
Num país com quase um quarto de uma população de 128 milhões de pessoas com mais de 60 anos, Taro Aso, de 72 anos, acrescenta que vai recusar qualquer assistência médica se ficar gravemente doente. “Não preciso desse tipo de cuidados”, disse, citado pela comunicação social japonesa, segundo a qual o ministro terá dado indicações à família para que não receba qualquer tratamento que lhe prolongue a vida.
Após tornadas públicas as declarações, Taro Aso terá tentado explicar-se aos jornalistas. O ministro das Finanças admitiu que utilizou uma linguagem “desapropriada”, mas sublinhou que apenas se referia às suas opções pessoais. “Disse o que pessoalmente acredito e não o que deveria ser o sistema nacional de saúde”
 Esta não é a primeira vez que o responsável japonês se vê envolvido em polêmica. No passado, fez piadas sobre doentes de Alzheimer e disse que gostaria que o Japão fosse um país tão bem-sucedido que “os judeus mais ricos ali quisessem viver”. (Fonte: Público)

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Animação do Muro de Berlim - Entre Muros - A Fronteira Interna da Alemanha.

Durante 28 anos, de 1961 a 1989, a população de Berlim, ex-capital do Reich alemão, com mais de três milhões de pessoas, padeceu uma experiência ímpar na história moderna: viu a cidade ser dividida por um imenso muro. Situação de verdadeira esquizofrenia geopolítica que cortou-a em duas partes, cada uma delas governada por regimes políticos ideologicamente inimigos. Abominação provocada pela guerra fria, a grosseira parede foi durante aqueles anos todos o símbolo da rivalidade entre Leste e Oeste, e, símbolo da disputa entre as potências EUA e URSS.
Berlim fora conquistada pelo Exército Vermelho (URSS) em maio de 1945. De comum acordo, acertado pelo tratado de Yalta e confirmado pelo de Potsdam, entre 1944-45, não importando quem colocasse a bota ou a lagarta do tanque por primeiro na capital do III Reich, comprometia-se a dividi-la com os demais aliados. Desta maneira, apesar dos soviéticos tomarem antes a cidade, e também um expressivo território ao seu redor, tiveram que ceder o lado ocidental dela para os três outros membros da Grande Aliança, vitoriosa em 1945. Assim Berlim viu-se administrada, a partir de 8 de maio de 1945, em quatro setores: o russo, majoritário, o americano, o inglês e o francês. Com o azedar da relação entre os vencedores, em 1948 as quatro zonas reduziram-se a duas: a soviética e a ocidental.
Na manhã bem cedo do dia 13 de agosto de 1961, a população de Berlim, próxima à linha que separava a cidade em duas partes, foi despertada por barulhos estranhos, exagerados. Ao abrirem suas janelas, depararam-se com um inusitado movimento nas ruas a sua frente. Vários Vopos, os milicianos da RDA (República Democrática da Alemanha), a Alemanha comunista, com seus uniformes verde-ruço, acompanhados por patrulhas armadas, estendiam de um poste a outro um interminável arame farpado que alongou-se, nos meses seguintes, por 37 quilômetros adentro da zona residencial da cidade. Enquanto isso, atrás deles, trabalhadores desembarcavam dos caminhões descarregando tijolos, blocos de concreto e sacos de cimento.

Ao tempo em que algum deles feriam o duro solo com picaretas e britadeiras, outros começavam a preparar a argamassa. Assim, do nada, começou a brotar um muro, o pavoroso Mauer, como o chamavam os alemães. 
(Fonte: EducaTerra)

terça-feira, 1 de julho de 2014

Desenho da URSS de 1942 satirizando Hitler.


Dados técnicos - Desenho da URSS de 1942 satirizando Hitler.
Diretor/Produtor – L. Amalrik e O. Kodhataeva, Souyzmultifilm.

País – URSS.
Ano – 1942.
Tempo – 00:03:41.


Resumo: Na época, o confronto III Reich x URSS estava acirrado. (2ª guerra mundial). (Fonte: Eba UFMG).

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Pão e Rosas, de Ken Loach (2000)

Celso Sabadin (2009) faz a seguinte descrição (e crítica) ao dizer "O inglês Ken Loach é um dos diretores mais festejados pela crítica especializada e pelos frequentadores de circuitos alternativos de cinema". E não é para menos. São raros os cineastas que num prazo muito curto de tempo realizam obras das mais interessantes. Político e humano como sempre, Loach centraliza a ação de seu filme num edifício norte americano como milhares de outros. Ou seja, onde os hóspedes são WASP (white, anglo saxões e protestantes) e os empregados são latinos. A partir das idéias de duas irmãs faxineiras, os empregados começam a perceber que eles teriam muito mais força se pudessem se organizar num Sindicato. E começam a considerar a ideia de maneira cada vez mais concreta.
De acordo com Giovanni Alves (2008) o filme "Pão e Rosas", de Ken Loach (2000), apresenta importantes elementos temáticos que tratam da situação do trabalho sob o capitalismo global. Primeiro, ele aborda a questão das migrações laborais - no caso, a migração ilegal de proletários desempregados do México (e da América Central) para os EUA; depois, trata da precariedade salarial extrema no setor de serviços de baixa qualificação (no caso, empregados faxineiros de prédios de escritórios em Los Angeles); e finalmente, o filme expõe a luta pelo reconhecimento da organização sindical dos setores pobres do mundo do trabalho. Importante destacar que o filme foi produzido baseado em fato verídico ocorrido no importante centro comercial de Los Angeles (Century City’s Office) em maio de 1990, quando cerca de 500 a 700 trabalhadores faxineiros dos prédios comerciais da região, parte deles de imigrantes ilegais, decidiram entrar em greve reivindicando melhores salários. A paralisação dos zeladores que durou de 29 de maio a 26 de junho de 1990, atingiu prédios de escritórios de importantes corporações internacionais no centro de Los Angeles. A paralisação atingiu os trabalhadores faxineiros da ISS (International Service System Inc), uma das maiores empresas de subcontratação de zeladores para serviços em prédios comerciais nos EUA (a ISS possui capital dinamarquês).
Longe dos clichês hollywoodianos, Loach novamente traça um belo painel social das classes menos favorecidas. Trabalha com um elenco desconhecido (porém afiado e homogêneo), e evita o panfletarismo raso que o tema poderia proporcionar. Selecionado para o Festival de Cannes 2000,Pão e Rosas pode não agradar ao público acostumado com a estética convencional das produções comerciais, mas certamente é um bom programa para quem espera ver algo de mais conteúdo na telona.

• Confira o trailer: aqui.

(Fonte: ALVES, Giovanni. Análise do filme Pão e Rosas. Disponível aqui. SABADIN, Celso. Pão e Rosas (Bread and Roses). Disponível aqui).

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Porque as namoradas devem amar mais do que seus namorados?

"O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar." - Carlos Drumond de Andrade.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Relembrando Chernobyl.

Até hoje é impossível saber precisamente o número de mortes causado pelo acidente nuclear.
O acidente no reator nuclear de Chernobyl, ocorrido em 26 de abril 1986, foi o mais severo da indústria de geração elétrica nuclear. O reator foi destruído no acidente e uma quantidade considerável de material radioativo foi liberada para o meio ambiente. O acidente causou a morte, dentro de algumas semanas, de 30 trabalhadores e ferimentos de radiação a mais de uma centena de outros.
Em resposta, as autoridades evacuaram, em 1986, cerca de 115.000 pessoas de áreas em torno do reator e, posteriormente, cerca de 220 mil pessoas de Belarus, da Rússia e da Ucrânia foram reassentadas.
O acidente provocou rupturas sociais e psicológicas graves nas vidas dessas pessoas afetadas e grandes perdas econômicas em toda a região. Grandes áreas dos três países foram contaminadas com materiais radioativos e pequenas quantidades de radionuclídeos foram detectadas em todos os países do hemisfério norte.
À época do acidente, especialistas previram até 40.000 mortes por cânceres decorrentes da radiação liberada para as regiões afetadas. Recentemente o 27 º aniversário do desastre foi lembrado, cabendo a questão: quantas pessoas realmente morreram devido à radiação de Chernobyl até agora?
Nós provavelmente nunca saberemos exatamente. Isso se deve, em parte, ao fato que 40.000 mortes por câncer são menos de 1% da mortalidade por câncer esperada na população afetada, independentemente do acidente. Essas mortes são indetectáveis por estudos epidemiológicos. Mesmo que não fossem, a ciência não poderia dizer se um tipo específico de câncer foi induzido pela radiação ou por qualquer outra causa.
Uma exceção é o câncer de tireoide, doença muito rara em crianças, cujo número de casos disparou para quase 7.000 na Belarus, Rússia e Ucrânia desde o acidente até 2005. Não há dúvida de que a radioatividade de Chernobyl foi causa desses casos de câncer, que levaram a cerca de uma dezena de mortes. Também sabemos que duas pessoas morreram no momento da explosão do reator e mais de 100 pessoas, a maioria bombeiros que desconheciam os perigos a que estavam expostos, receberam doses altas o suficiente para causar a síndrome de radiação aguda. Destes, 29 morreram dentro de poucos meses após o acidente, seguidos de mais 18 mortes ao longo dos anos, quase todos por leucemia.
Para além desses tristes casos, exacerbadas controvérsias sobre o número de mortes de Chernobyl persistem. O fato concreto é que para a grande maioria das populações mais afetadas, o desastre causou doses de radiação equivalentes a algumas tomografias computadorizadas. A níveis tão baixos, os efeitos da radiação sobre a saúde, se ocorrerem, são em longo prazo e essencialmente aleatórios.
Como o decaimento atômico que gera a radiação é impossível de ser previsto para um átomo individual, os efeitos da radiação sobre a saúde são também aleatórios. Uma determinada pessoa que viveu na zona de afetada pode ou não possuir, por exemplo, um átomo de césio-137 que está em silêncio imitando o potássio em alguma célula do corpo. O átomo pode ou não liberar radiação que venha atingir o DNA e transforma-lo de tal forma que possa levar ao câncer.
As previsões de mortalidade por câncer de Chernobyl são baseadas em fórmulas derivadas de estudos de populações japonesas sobreviventes das bombas de Hiroshima e Nagazaki, submetidas a doses muito mais elevadas. As fórmulas tomam a quantidade total de radiação liberada pelo desastre de Chernobyl, distribuem-na como dose por toda a população afetada, e multiplicam esse valor por um fator de risco, extrapolado desses estudos, para chegar a um número de mortes.
Os especialistas divergem nos fatores de risco utilizados, mas todas as fórmulas assumem que os efeitos para a saúde em longo prazo, principalmente ocorrência de leucemia, que é o câncer mais comumente causado pela radiação, são diretamente proporcionais à dose. Os especialistas também divergem quanto à existência ou não de um limiar de dose mínima abaixo da qual não ocorrem mais efeitos e, em existindo, qual seria seu valor.
Os verdadeiros efeitos sobre a saúde da radiação a baixo nível de dose não podem ser exatamente conhecidos, porque qualquer estudo para identificá-los teria que incluir um número incrivelmente grande de pessoas. Além disso, não é claro que os efeitos da intensa exposição à radiação imediatamente após as explosões de armas nucleares representem os mesmos perigos das baixas, mas crônicas, doses decorrentes de Chernobyl.
Existem inúmeras evidências científicas de que os mecanismos de reparação celular podem compensar as doses mais baixas de exposição. Isso explica porque não foi detectado o aumento previsto para casos de leucemia nas populações expostas à nuvem radioativa de Chernobyl.
Dada todas as incertezas, as estimativas atuais do número de mortes causadas por Chernobyl são muito diferentes das 40.000 inicialmente previstas. Em 2005, o Comitê Científico sobre Efeitos da Radiação Atômica da Organização das Nações Unidas (UNSCEAR) estimou a ocorrência de 4.000 mortes, ainda considerando a hipótese linear sem limiar para a relação dose-efeito, mas atualizando os fatores de risco de acordo com os avanços científicos na área.
Três anos mais tarde, no seu relatório de 2008, o Comitê passou a adotar como limite mínimo a dose equivalente a quatro tomografias computadorizadas abdominais, devido a incertezas inaceitáveis para essa faixa de doses tão baixa. Isso fez com que a previsão de número de mortes fosse ainda mais reduzida. Os críticos, tais como Greenpeace, responderam com novas previsões de 93 mil mortes por câncer causadas por Chernobyl.
Na realidade, as diferenças nos números decorrem das hipóteses de cálculo adotadas para a relação dose-efeito: o Comitê da ONU passou a adotar a hipótese linear com limite mínimo, pois após décadas de estudos, nunca se conseguiu encontrar evidências científicas de que existam realmente efeitos para doses muito baixas.
Os militantes antinucleares rejeitam esse fato e continuam fazendo cálculos com a hipótese de inexistência de limite e fatores de risco superdimensionados, em que pesem as inúmeras evidências contrárias, demostradas pela medicina nuclear e pelos estudos epidemiológicos, particularmente em regiões com altos níveis de radiação natural, como é o caso brasileiro das praias de areias monazíticas ao sul do Espírito Santo.
Na verdade, trata-se da discussão de princípios epistemológicos: a partir de que ponto a ausência de evidência pode ser assumida na prática como evidência de ausência? Em outras palavras, pode-se provar cientificamente que algo existe, mas é praticamente impossível provar que algo não existe. Enquanto isso, a discussão continua a se prestar aos mais variados vieses da subjetividade e dos interesses humanos.
Leonam dos Santos Guimarães é doutor em engenharia e membro do Grupo Permanente de Assessoria em Energia Nuclear do Diretor-Geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
(Fonte: Opera Mundi)

terça-feira, 3 de junho de 2014

O Direito ao Delírio. - Eduardo Galeano.

Está a nascer o novo milênio  Não dá para levar o assunto demasiado a sério: ao fim e ao cabo o ano 2001 dos cristãos é também o ano 1379 dos muçulmanos, o 5114 dos maias e o 5762 dos judeus. Além disso, o novo milênio nasce no primeiro de Janeiro por obra e graça de um capricho dos senadores romanos, que em determinada altura decidiram romper com a tradição que mandava celebrar o ano novo no começo de cada primavera.
A contagem dos anos da era cristã provém ainda de outro capricho: um belo dia o papa de Roma decidiu datar o nascimento de Jesus, mesmo que ninguém pudesse precisar então em que data tinha ele nascido. O tempo ri-se dos limites que inventamos para construirmos a ficção de que ele nos obedece, mas o mundo inteiro celebra e teme essa espécie de fronteira. Milênio vai, milênio vem, a ocasião é, assim, propícia para que oradores de inflamada verve possam perorar acerca do destino da humanidade, e para que os arautos da ira de Deus possam anunciar o fim do mundo. O tempo, esse, lá continua sossegado a sua caminhada ao longo da eternidade e do mistério. Verdade seja dita, porém, a uma data assim, por mais arbitrária que ela seja, não há quem resista, e ninguém escapa afinal à tentação de tentar saber como será o tempo que será.
Vá-se lá saber porém como será. Possuímos uma única certeza: no século vinte e um, ainda que possamos estar aqui, seremos todos gente do século passado e, pior ainda, seremos gente do passado milênio  Não podemos todavia tentar adivinhar o tempo que será sem que tenhamos, pelo menos, o direito de imaginar aquele que queremos que seja. Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos, mas a imensa maioria da humanidade não tem senão o direito de ver, de ouvir e de calar. Que tal se começássemos a exercer o nunca proclamado direito de sonhar? Que tal se delirássemos por um pouco? Vamos então lançar o olhar para lá da infâmia, tentando adivinhar outro mundo possível.
No próximo milênio o ar estará limpo de todo veneno que não venha dos medos humanos e das humanas paixões. Nas ruas, os automóveis serão esmagados pelos cães. As pessoas não serão programadas por computador, nem compradas no supermercado, nem espiadas por televisor. O televisor deixará de ser o membro mais importante da família e será tratado como o ferro de engomar ou a máquina de lavar a roupa. As pessoas trabalharão para viver, em vez de viverem para trabalhar. Será incorporado nos códigos penais o delito de estupidez, que cometem todos aqueles que vivem para ter ou para ganhar, em vez de viverem apenas para viver, como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca. Em nenhum país serão presos os jovens que se recusem a cumprir o serviço militar. Os economistas não chamarão nível de vida ao nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida à quantidade de coisas. Os cozinheiros deixarão de considerar que as lagostas gostam de ser cosidas vivas. Os historiadores deixarão de crer que existiram países que gostaram de ser invadidos. Os políticos não acreditarão mais que os pobres adoram comer promessas. A solenidade deixará de se julgar uma virtude e ninguém tomará a sério nada que não seja capaz de assumir. A morte e o dinheiro perderão os seus poderes mágicos, e nem por disfunção ou por acaso será possível transformar o canalha em cavalheiro virtuoso. Ninguém será considerado herói ou louco só porque faz aquilo que acredita ser justo, em vez de fazer aquilo que mais lhe convém. O mundo já não se encontrará em guerra contra os pobres, mas sim contra a pobreza, e a indústria militar não terá outro caminho senão declarar a falência. A comida não será uma mercadoria, nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direitos humanos. Ninguém morrerá de fome porque ninguém morrerá de indigestão. As crianças de rua não serão tratadas como se fossem lixo, porque não haverá crianças de rua. Os meninos ricos não serão tratadas como se fossem dinheiro porque não existirão meninos ricos. A educação não será um privilégio apenas de quem possa pagá-la. A polícia não será a maldição daqueles que não podem comprá-la. A justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viverem separadas, voltarão a juntar-se, bem unidas ombro com ombro. Uma mulher, negra, será presidente do Brasil e outra mulher, negra também, será presidente dos Estados Unidos da América; uma mulher índia governará a Guatemala, e outra o Peru. Na Argentina, as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental, porque se negaram a esquecer em tempos de amnésia obrigatória. A Santa Madre Igreja corrigirá os erros das tábuas de Moisés, e o sexto mandamento mandará festejar o corpo. A Igreja ditará também outro mandamento que havia sido esquecido: "Amarás a natureza, da qual fazes parte". E serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma.
Os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles são aqueles que desesperaram de tanto esperar e os que se perderam de tanto procurar. Seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham desejo de justiça e desejo de beleza, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido quando tenham vivido, sem que importem as fronteiras do mapa e do tempo. A perfeição continuará a ser o aborrecido privilégio dos deuses, mas, neste mundo imperfeito e exaltante, cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro. - Dez. 1999.

(Fonte: Dh Net)

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Annie Leonard me conta “A História das Coisas”.

Consumo excessivo. Esse é um dos principais dilemas da atualidade. Com A História das Coisas, vídeo caseiro baseado em desenhos, Annie Leornad conquistou o mundo ao mostrar os efeitos de uma economia que valoriza o acúmulo de riquezas e de “coisas”. No vídeo de 20 minutos, Annie apresenta os resultados de mais de dez anos de pesquisas sobre o sistema de produção, distribuição, consumo e descarte de produtos no mundo.


Nesta entrevista, a ativista fala sobre suas experiências, aventuras e como devemos focar na qualidade de vida ao invés do consumo exacerbado. Ela conta sobre suas inspirações para o vídeo e o que a levou a escrever um livro contendo detalhes dessas experiências, sobre educação ambiental, sustentabilidade e sobre o papel da sociedade na instituição de uma nova cultura econômica e de consumo.
O filme, que deu origem ao livro, foi visto por mais de 15 milhões de pessoas, sendo o Brasil um dos países com maior número de telespectadores. Annie, que vive com a filha em uma comunidade em Berkley, na Califórnia, ainda destaca a importância de temos um superávit de coisas que realmente importam: o tempo para o lazer, qualidade de vida e a necessidade da sociedade reconsiderar suas prioridades, aprendendo a viver melhor e com menos.
Confira a entrevista:
• Efraim Neto - Como surgiu a ideia de escrever o livro "A História das Coisas"?
• Annie Leonard – Em uma inversão da ordem habitual. Primeiramente eu fiz o filme e, em seguida, escrevi o livro. O filme resumiu o que aprendi em 20 anos de viagens e estudos. Visitei fábricas e depósitos em todo o mundo e pude mostrar, em primeira mão, tudo sobre os impactos que a nossa forma de produzir e descartar “coisas” provocam em nossa saúde, no meio ambiente e na sociedade. A História das Coisas conta essas experiências de forma engraçada. Depois que o filme saiu, recebi dezenas de milhares de emails pedindo mais informações sobre as histórias que ali contei. Fiquei tão feliz que as pessoas queriam falar sobre essas questões – geralmente mantidas fora da discussão pública -, que tentei responder a cada email. Mas isso não funcionou. Em vez disso, decidi escrever um livro que incluísse mais detalhes sobre as histórias apresentadas no filme, algo que pudesse também falar das minhas viagens.
• EN – Em seu livro, você traz diversos questionamentos a respeito do estilo de vida humano. Qual a principal mensagem que você pretende transmitir com a História das Coisas?
• AL – Minha mensagem principal é que podemos produzir coisas melhores e com menos. A mudança é possível. O nosso meio ambiente e corpos estão repletos de produtos químicos tóxicos. A nossa economia, por meio do consumo excessivo, gera quantidades enormes de resíduos e trata as pessoas pobres como descartáveis. Não precisa ser dessa maneira. Pode ser diferente. Com melhores tecnologias, políticas e mudanças na cultura, podemos ter uma sociedade que seja saudável, sustentável e justa.
• EN – Relatórios recentes do UNEP têm apontando que necessitamos modificar os nossos meios de produção e consumo. O que você pensa a respeito disso?
• AL – Isso está correto. Muitos acadêmicos e cientistas estão dizendo a mesma coisa. A humanidade está usando, a cada ano, mais recursos e gerando mais lixo do que o planeta pode suportar. A Global Footprint Network calcula que globalmente estamos usando 1,5 planetas. Os limites da Terra nos obrigam a aprender a usar os recursos de forma mais sensata, desperdiçar menos e compartilhar mais.
Isto significa que para melhorar nossas práticas precisamos tornar a produção industrial mais eficiente, mais saudável e sustentável. Há muito espaço para melhorar. Muitas empresas – grandes, médias e pequenas -, em todo mundo, estão demonstrando, através da redução do uso de água, energia e resíduos, compromisso com a sustentabilidade. A mudança é possível, mas requer redesenhar tudo: os produtos, as fábricas e o sistema energético, em especial. Precisamos cultivar os valores culturais em torno da qualidade de vida, da saúde, da felicidade e da comunidade.
• EN – Em sua opinião, quais são os maiores gargalos do nosso modelo econômico?


• AL – Há uma série de problemas fundamentais com o nosso atual modelo econômico. Um dos principais problemas é o foco no crescimento econômico e o PIB como o único instrumento para mensurar como a nossa sociedade faz isso. O crescimento econômico deveria ser um instrumento para avançarmos em direção aos objetivos sociais: comunidades mais saudáveis, pessoas mais felizes, ambientes mais limpos e boas escolas. Enquanto isso não mudar, viveremos uma situação ambígua, onde acidentes automobilísticos, derramamento de resíduos perigosos, construção de prisões e problemas de saúde parecem ser considerados positivos, uma vez que auxiliam o crescimento econômico.
Se eu pudesse mudar alguma coisa, criaria uma ferramenta pela qual pudéssemos avaliar o que estamos fazendo como sociedade. Não contaríamos apenas quanto dinheiro temos, mas sim se os nossos filhos estão saudáveis, se temos oportunidades de trabalho decente e educação de qualidade, se os membros da comunidade sentem-se seguros e felizes, se nosso ar está limpo.
• EN – Será que estamos diante de uma mudança de paradigma na nossa realidade material?
• AL – Há muitos lugares onde as atitudes estão mudando. Há, ainda, milhões de pessoas no mundo que vivem na pobreza, que vão dormir com fome e que precisam de ferramentas para chegar até um nível básico de saúde e dignidade. Na outra extremidade, há outros milhões que acreditam que o caminho da felicidade e segurança é no acumulo de riquezas materiais.
Mas essa atitude está mudando. Depois de décadas de longas horas gastas para que se consumissem mais coisas, estamos nos sentido sobrecarregados. Nossas casas estão cheias, nossas garagens estão cheias. Mesmo com o crescimento explosivo do “mini-armazenamento”, a indústria não pode manter-se com todas as coisas que as pessoas têm acumulado. Passamos os finais de semana comprando mais coisas. Por isso, temos menos amigos; estamos mais isolados socialmente, sem perceber que as coisas mais importantes na vida não são as “coisas” que acumulamos.
• EF – Que mudanças estão ocorrendo na economia tradicional após a ampliação do debate sobre a sustentabilidade?
• AL – É impossível ignorar a gravidade da crise ecológica. Em todo o mundo, muitos líderes já compreendem que o modelo de produção atual, cheio de resíduos, não terá futuro, por isso querem traçar um novo caminho. As empresas estão aprendendo a eliminar produtos tóxicos dos seus processos de produção, a reclicar a água e materiais, e, maciçamente, a reduzir o uso de energia. Claro, ainda existem empresas que estão resistindo às mudanças. Mas elas ainda serão obrigadas a aplicarem iniciativas de sustentabilidade. É possível, dentro de todos os setores produtivos, ter um negócio próspero com princípios da sustentabilidade.
• EN – No livro, você relata histórias que mudaram sua percepção sobre as “coisas” e a economia. Qual dessas histórias mais chamou a sua atenção?
• AL – A primeira vez que fiquei interessada em como as “coisas” influenciavam a economia foi quando eu ainda era apenas uma estudante da Universidade de Nova Iorque. Todos os dias no caminho para a aula, eu me perguntava sobre a quantidade grande de lixo nas ruas, algo esperando apenas para ser coletado. Me perguntava o que havia nas sacolas e para onde elas eram enviadas. Certa vez, ainda estudante, fui até o aterro municipal. Foi uma experiência impressionante ver para onde todas as “coisas” iam: eletrodomésticos, roupas, livros, alimentos, calçados, embalagens. Isso me fez pensar que deve haver alguma forma de melhor atender as nossas necessidades sem desperdiçarmos tantos materiais. Então decidi passar os últimos 20 anos estudando isso: para onde as nossas “coisas” vão, o que há nelas e o que podemos fazer de melhor. Se você ainda não foi ao aterro de sua cidade, recomento veementemente que vá. Ele lhe dará uma perspectiva fascinante sobre a sociedade do consumo que os anunciantes promovem tão fortemente.
• EN – Qual o nosso maior desafio? Mudar a economia ou mudar as nossas atitudes?
• AL – Precisamos fazer as duas coisas. A crise ecológica e social que enfrentamos é tão grande e tão interligada que todos nós estamos envolvidos. Precisamos mudar nossas políticas econômicas e industriais de modo a promover ambientes saudáveis, sustentáveis e meios justos de produção, assim como nos libertamos dessa obsessão pelo consumo. Basicamente, precisamos apertar o “reset” em nossa sociedade. Precisamos de diferentes tipos de edificações e de um novo planejamento urbano que incentive o transporte público e a congregação entre as comunidades. Precisamos redesenhar produtos para que eles possam estar livres de produtos químicos tóxicos e terem maior durabilidade. Precisamos de um sistema de gestão dos resíduos que incida sobre a reutilização e não apenas na queima ou soterramento das “coisas”. Com a mudança nas sociedades, os líderes e os empresários serão obrigados a pôr a sustentabilidade em prática. As leis precisam mudar junto com as atitudes. Está tudo interligado.
• EN – Ao descrever as suas experiências, você fala de ética, direitos e deveres. Podemos afirmar que a crise no modelo econômico é uma crise ética?
• AL – Essa é uma crise ética, física, biológica e social. O nosso atual modelo econômico está destruindo nossos ecossistemas e os recursosque o planeta dispõe, promove o aprofundamento das desigualdades e nega oportunidades para milhões de pessoas. É um sistema que premia alguns enquanto exclui outros, eliminando oportunidades para as gerações futuras. Para superar essas crises, podemos e devemos fazer melhor do que estamos fazendo.
• EN – O que você pensa sobre economia verde?
• AL – Infelizmente não há uma definição comum para a economia verde. Algumas empresas estão tentando lucrar com um “pacote verde”, mas continuam fazendo o velho: lixos e produtos tóxicos e descartáveis. Elas não estão indo para o caminho da sustentabilidade, mas sim se utilizando de “greenwashing”. No entanto, há uma economia verde que pode significar um sistema que funcione dentro dos limites do planeta, sendo compatível com os sistemas ecológicos que sustentam a vida e que é saudável para as pessoas.
Na verdade, dado que temos de aprender a viver dentro dos limites do planeta, uma economia que pode promover mudanças não deve ser vista como uma opção entre muitas, mas sim como a única opção. E todos nós podemos ajudar a instituir esse modelo econômico. Para isso, precisamos exigir oredesenho e uma revisão completa de nossa economia, e não nos contentarmos com as pequenas e aparentes mudanças que temos visto até o momento.

(Fonte: Mercado Ético)

domingo, 1 de junho de 2014

Educar para um outro mundo possível. - Por Moacir Gadotti.

A diversidade é a característica fundamental da humanidade. Por isso não pode haver um único modo de produzir e de reproduzir nossa existência no planeta. O que há de comum é a diversidade humana. Diante da diversidade humana abre-se a possibilidade da diversidade de mundos possíveis. A um pensamento único não podemos opor outro pensamento único. Educar para outro mundo possível é educar para outros mundos possíveis. 

- O que é educar para um outro mundo possível (no plural)?

Antes de mais nada, educar para outros mundos possíveis é visibilizar o que foi escondido para oprimir, é dar voz aos que não são escutados. A luta feminista, o movimento ecológico, o movimento zapatista, o movimento dos sem terra e outros, tornaram visível o que estava invisibilizado por séculos de opressão. Por isso, podemos dizer que são movimentos de educação para um outro mundo possível. Paulo Freire, entre outros, foi um exemplo de educador de outros mundos possíveis, colocando no palco da história o oprimido, visibilizando o oprimido e sua relação com o opressor.
Educar para outros mundos possíveis é educar para conscientizar, para desalienar, para desfetichizar. O fetichismo da ideologia neoliberal é o fetiche da lógica burguesa e capitalista que consegue solidificar-se a ponto de fazer crer que o mundo é naturalmente imutável. O fetichismo transforma as relações humanas em fenômenos estáticos, como se fossem impossíveis de serem modificadas. Fetichizados, somos incapazes de agir porque o fetiche rompe com a capacidade de fazer. Fetichizados apenas repetimos o já feito, o já dito, o que já existe.
Educar para outros mundos possíveis é educar para a emergência do que ainda não é, o ainda-não, a utopia. Assim fazendo, estamos assumindo a história como possibilidade e não como fatalidade. Por isso, educar para outros mundos possíveis é também educar para a ruptura, para a rebeldia, para a recusa, para dizer “não”, para gritar, para sonhar com outros mundos possíveis. Denunciando e anunciando.O neoliberalismo concebe a educação como uma mercadoria, reduzindo nossas identidades às de meros consumidores, desprezando o espaço público e a dimensão humanista da educação. Opondo-se a esse paradigma, a educação para outros mundos possíveis respeita e valoriza a diversidade, convive com a diferença, promovendo a intertransculturalidade. O núcleo central da concepção neoliberal da educação é a negação do sonho e da utopia. Por isso, uma educação para outros mundos possíveis é, sobretudo, a educação para o sonho, uma educação para a esperança.
A mercantilização da educação é um dos desafios mais decisivos da história atual, porque ela sobrevaloriza o econômico em detrimento do humano. Só uma educação emancipadora poderá inverter essa lógica, através da formação para a consciência crítica e para a desalienação. Educar para outros mundos possíveis é educar para a qualidade humana para “além do capital”, como nos disse István Mészáros na abertura da quarta edição do Fórum Mundial de Educação, em Porto Alegre, em janeiro de 2005. A globalização capitalista roubou das pessoas o tempo para o bem viver e o espaço da vida interior, roubou a capacidade de produzir dignamente as nossas vidas. Cada vez mais gente é reduzida a máquinas de produção e de reprodução do capital.
Educar para outros mundos possíveis é fazer da educação, tanto formal, quanto não-formal, um espaço de formação crítica e não apenas de formação de mão-de-obra para o mercado; é inventar novos espaços de formação alternativos ao sistema formal de educação e negar a sua forma hierarquizada numa estrutura de mando e subordinação; é educar para articular as diferentes rebeldias que negam hoje as relações sociais capitalistas; é educar para mudar radicalmente nossa maneira de produzir e de reproduzir nossa existência no planeta, portanto, é uma educação para a sustentabilidade.
Não se pode mudar o mundo sem mudar as pessoas: mudar o mundo e mudar as pessoas são processos interligados. Mudar o mundo depende de todos nós: é preciso que cada um tome consciência e se organize. Educar para outros mundos possíveis é educar para superar a lógica desumanizadora do capital que tem no individualismo e no lucro seus fundamentos, é educar para transformar radicalmente o modelo econômico e político atual.
Não fomos educados para ter uma consciência planetária e sim a consciência do estado-nação. Os sistemas nacionais de educação nasceram como parte da constituição do estado-nação. A escola atual é resultado do pensamento da modernidade, modelada pelos estados-nação. Ela não atende nem as exigências da globalização e nem do seu oposto, isto é, a planetarização como paradigma de uma comunidade una e diversa. 
Educar para outros mundos possíveis exige dos educadores um compromisso pela desmercantilização da educação e uma postura ecopedagógica de escuta do universo, do qual todos e todas fazemos parte. Os educadores não devem dirigir-se apenas a alunos ou a educandos, mas aos habitantes do planeta, considerando-os a todos e a todas como cidadãos da mesma Mátria.
A terra é nosso primeiro grande educador. Educar para outros mundos possíveis é também educar para encontrar nosso lugar na história, no universo. É educar para a paz, para os direitos humanos, para a justiça social e para a diversidade cultural, contra o sexismo e o racismo. É educar para erradicar a fome e a miséria. É educar para a consciência planetária. É educar para que cada um de nós encontre o seu lugar no mundo, educar para pertencer a uma comunidade humana planetária, para sentir profundamente o universo.
É educar para a planetarização não para o globalismo. Vivemos num planeta e não num globo. O globo refere-se a sua superfície, a suas divisões geográficas, a seus paralelos e meridianos. O globo refere-se a aspectos cartoriais, enquanto o planeta, ao contrário dessa visão linear, refere-se a uma totalidade em movimento. A terra é um superorganismo vivo e em evolução. Nosso destino, enquanto seres humanos, está ligado ao destino desse ser chamado terra. Educar para outros mundos possíveis é educar para ter uma relação sustentável com todos os seres da terra, sejam eles humanos ou não.
É educar para viver no cosmos – educação planetária, cósmica e cosmológica – ampliando nossa compreensão da terra e do universo. É educar para ter uma perspectiva cósmica. Só assim poderemos entender mais amplamente os problemas da desertificação, do desflorestamento, do aquecimento da Terra, da água, do lixo e dos problemas que atingem humanos e não-humanos.
Os paradigmas clássicos, arrogantemente antropocêntricos e industrialistas, não têm suficiente abrangência para explicar essa realidade cósmica. Por não ter essa visão holística, não conseguiram dar nenhuma resposta para tirar o planeta da rota do extermínio e do rumo da cruel diferença entre ricos e pobres. Os paradigmas clássicos estão levando o planeta ao esgotamento de seus recursos naturais. A crise atual é uma crise de paradigmas civilizatórios. Educar para outros mundos possíveis supõe um novo paradigma, um paradigma holístico.


(Fonte: Revista Fórum)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

O mapa mais preocupante da Europa: o desemprego.

O Eurostat divulgou os dados do referentes a março. Portugal é o terceiro país com mais desemprego. A Áustria tem a taxa mais baixa com 4,7%.

(Fonte: Dinheiro Vivo)

domingo, 4 de maio de 2014

Crise provoca corrida aos psicanalistas na Espanha.

População recorre à terapia para lidar com queda no padrão de vida.

MADRI — Sem trabalho, com uma ordem de despejo, dois filhos para manter, as consequências de uma separação para administrar e o temor de que o ex-marido tente, novamente, o suicídio, Marta procurou uma psicanalista e pediu socorro. Como não tinha dinheiro para as sessões, contou seu drama e ofereceu, em troca do tratamento, seu serviços de contadora, cuidando, entre outras coisas, da declaração do Imposto de Renda da terapeuta. Marta, assim como o ex-marido, arquiteto, que vem sendo atendido pelos serviços de saúde pública, nunca tinha pensado na possibilidade de, um dia, entrar no consultório de um psicólogo, que, até pouco tempo, era chamado pelos espanhóis de loquero (“que trata loucos”). Se consideravam, conta Marta, “gente com as ideias claras e com a vida resolvida”. Mas o caso dela não é isolado. A mudança de perspectiva é geral. Nestes cinco anos de crise econômica, os consultórios encheram.
— Eu tinha tudo. Sempre fui de classe média. Carro, hipoteca, viagem de férias, família feliz. De um dia para o outro nossa vida começou a desabar como um castelo de areia. Como não consigo achar uma solução, procurei ajuda para, pelo menos, saber lidar com a catástrofe em que se transformou a minha vida. Hoje não tenho nada e, se não fosse por meus pais e por minha irmã, não teria nem como dar de comer às crianças — conta Marta (nome falso), que exige anonimato.
Sentimento de culpa e vergonha
Um denominador comum entre as pessoas que foram empurradas pela crise econômica a bater à porta de consultórios psiquiátricos é a sensação de que perderam o controle sobre suas vidas. Por mais esforço que façam para encontrar trabalho ou não perder suas casas, nada muda o curso dos acontecimentos. A magnitude do problema é tal, afirma o psicanalista e psiquiatra Josep Moya Ollé, coordenador do Observatório de Saúde Mental da Catalunha, que o modelo de intervenção deve mudar urgentemente. Moya avalia que os atendimentos individualizados não estão dando resultado, e os profissionais devem organizar reuniões de ajuda mútua e terapias em grupo no seio da própria sociedade, dentro de centros cívicos, porque se está criando na Espanha uma perigosa situação de isolamento social.
— Há pacientes que dizem que não saem na rua para evitar cruzar com pessoas conhecidas, que se negam a cumprimentá-los, porque estão em uma situação muito precária e deixaram de ter o que tinham. Neste aspecto não podemos culpar Bruxelas ou Wall Street. Este é um problema nosso. A própria sociedade gera este estigma — explica Moya.
O panorama é desolador por onde quer que se olhe: 6,2 milhões de desempregados (uma assustadora taxa de 27%); 10% das residências com todos os seus membros sem trabalho; 513 despejos por dia; mais de 11 milhões de espanhóis (dos 47 milhões) abaixo da linha de pobreza; 26,5% dos menores de 16 anos em risco de exclusão social. Cifras alarmantes que se traduzem em dramas pessoais, marcados por uma culpa irracional.
— Muitos pacientes se perguntam “O que fiz de mal?”, “Onde foi que eu errei?”, “Por que meus filhos vão ter condições de vida piores do que as minhas?”. Uma pessoa pode errar mais ou errar menos, mas há algo que está claro: nenhuma delas provocou esta crise, embora sofram com ela — afirma Moya.
Ao sentimento de culpa se une a vergonha, que torna silencioso o empobrecimento da classe média. As pessoas não falam sobre o naufrágio de suas vidas, e tentam justificar suas atitudes inventando desculpas que ocultam a verdadeira razão, que é a falta de dinheiro. Mudam o filho do colégio particular para o público porque não estavam de acordo com os métodos de ensino; negam-se a pagar taxas extras de condomínio porque as acham absurdas; deixam o carro indefinidamente na oficina mecânica porque andam muito ocupados. Uma luta interna (e externa) vivida por uma boa fatia da população para enfrentar o paradoxo de não ter como consumir em uma sociedade de consumo: algumas estatísticas apontam que cerca de 13 milhões de pessoas que eram parte da classe média espanhola, já não podem se considerar como tal.
— Entre nossos pacientes há pessoas que nunca usaram os serviços públicos, mas, de repente, caíram em uma situação de precariedade tão absoluta que se viram obrigados a comer em “sopões”. Empresários, inclusive. Há gente que se sente tão envergonhada de fazer fila na rua para conseguir um prato de comida que acaba enfrentando sérias dificuldades para se alimentar. Sentem-se observados e preocupados com a imagem diante das outras pessoas — conta Ernolando Parra, coordenador do programa de atendimento gratuito “Tempos de crise”, oferecido pela ONG Psicólogos Sem Fronteiras.
Apoio gratuito aos despejados
 O projeto “Tempos de crise” nasceu para dar apoio aos despejados, um dos maiores dramas atualmente no país: famílias que perdem suas casas por não pagar a hipoteca. Como a entrega do imóvel ao banco não se traduz na quitação da dívida, e a inadimplência gera multas superiores a 20%, espanhóis se veem sem dinheiro, sem ter onde morar, com o nome sujo e com a ameaça de embargo de salário caso consigam, finalmente, um emprego.
— Atendemos pessoas extremamente angustiadas, em casa e com dívidas gigantescas que, com as sessões, acabam vendo que o valor é tão alto que não tem sentido gastar energia pensando em como pagá-lo. Passam a direcionar suas forças a tentar sobreviver, a encontrar uma solução imediata de alojamento, e a cuidar de seus filhos da melhor maneira possível. Sabem que terão que viver da economia informal e que mesmo sendo empreendedores, jamais poderão montar um negócio — diz Parra. — O custo da dívida não é só econômico. É social.
(Fonte: O Globo)

sábado, 3 de maio de 2014

Desemprego na Grécia chega a 27% e a 64,2% entre jovens em fevereiro.

Atenas – O desemprego alcançou em fevereiro 27% da população ativa da Grécia e, no caso dos jovens, 64,2%, informou nesta quinta-feira o escritório de estatística Elstat. Em janeiro, foi anunciado que o desemprego chegaria a 27,2%, mas o Elstat revisou o dado e o fixou em 26,7%.
O desemprego de fevereiro representa um aumento de pouco mais de 5% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foi de 21,9%. Quanto ao desemprego juvenil entre os menores de 25 anos, o novo número representa umrecorde histórico, cinco pontos percentuais acima da taxa de desemprego de janeiro (59,3%) e dez acima da de fevereiro de 2012 (54,1%). Na faixa de idade de 25 a 34 anos o desemprego chega a 36,2%.
Outro dado relevante é que a falta de trabalho afeta mais as mulheres (31%) que os homens (24,1%). O Ministério do Trabalho da Grécia informou ontem que o número de novos contratos superou em quase 30% de postos de trabalho perdidos em abril.
No entanto, o principal partido da oposição, o esquerdista Syriza, acusou o Ministério de maquiar as estatísticas pois, segundo disse, computa como novos contratos os que se renovam aos empregados temporários.
 Além disso, segundo dados do próprio Ministério do Trabalho, dos 3,6 milhões de pessoas que atualmente trabalham na Grécia, cerca de 400 mil não cobraram nos últimos meses pelos problemas financeiros de suas empresas. Cerca de 450 mil famílias em todo o país estão com todos os membros desempregados.
 (Fonte: Rede Brasil Atual)

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Ainda somos a "Geração Coca-Cola"?

"Quando nascemos fomos programados a receber de vocês, nos empurraram com os enlatados de USA, de 9 às 6, desde pequenos nós comemos lixo, comercial, industrial" [...], já previa Renato Russo. O mundo em que hoje vivemos não difere dos ditos dos cantores de anos atrás.

("Até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar o mundo. Quem roubou nossa coragem? Tudo é dor, e toda dor vem do desejo de não sentimos dor." - Renato Russo)

Na atual conjuntura, as pessoas, desde crianças, adquirem modelos da sociedade capitalista. Já nascem em um meio de consumo exagerado e desnecessário no qual se aprende inconscientemente a ilusão de que o ter gera felicidade.
De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto Alana (ONG de Assistência Social) e IBGE (censo), cerca de 22% da população são crianças até 10 anos e 28% até 14 anos, estas, donas de uma média de 50 bilhões de reais quando o assunto é movimentação de mercado (Instituto Alana, 2013, SP). “O consumo nesta fase da vida, até os 12 anos de idade, é estimulado em primeiro lugar pela publicidade na televisão, seguido pelo uso de personagens famosos que fazem parte do imaginário infantil e pela embalagem dos produtos", afirma a advogada e coordenadora do projeto "Criança e Consumo", Isabela Henriques.
Não é somente por "falta de pulso" dos pais que hoje existe a questão de serem as crianças uma das parcelas mais altas em estímulo ao consumo, publicidade e cinema que também fazem parte dos meios de mais forte influência. Exemplo disso são os comerciais destinados à crianças que geralmente são exibidos em canais e horários específicos para esse tipo de telespectador.
"Inocentes" animações cinematográficas viram armas para quem não sabe enxergá-las de forma crítica, situações comuns de filmes são observadas e absorvidas de forma fácil, levando em conta a facilidade de transmissão de suas mensagens, já que o filme é destinado ao público infantil. Toy Story (Pixar, 1995) é uma das animações que podemos citar, pois trata de forma abrangente vários contextos nos quais crianças estão inseridas em um mundo de muitos brinquedos, passeios em ambientes propícios ao consumo excessivo (shoppings, lotados de redes de fast food), assistindo comerciais de TV falando sobre a necessidade de ter "esse" ou "aquele" brinquedo etc.
São inúmeras as causas pelas quais estimulam as crianças e jovens de hoje ao consumismo, cabe aos pais e a escola proporcionarem formas para ensinar o valor do dinheiro e o quão é importante ter consciência de que o ter não faz ninguém melhor. Quem sabe assim, será possível fazer valer os versos do grande poeta, "vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês" já que somos "o futuro da nação".
Portanto, leitor jovem como eu, será que o conteúdo da música Geração coca-cola, lançado em 1984 , ainda mexe com os jovens atuais ou serve para ações intimidativas e transformadoras na sociedade atual? Será que de fato estamos agindo como agentes históricos que usam seu "título de rebeldia" em benefício de um mundo mais agradável? Os jovens precisam mudar e assim interferir no mundo de forma a torná-lo um lugar melhor. Precisamos sonhar, se não as coisas não ganham corpo e força...

Texto por: Náyade Dessiree.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

A Magia do Império – Ginha Nader.


Um livro curioso e até interessante, mas não uma leitura obrigatória para quem deseja conhecer o cinema de animação (desenhos animados) muito além da tela, criticamente falando.
É o tipo de trabalho que deve ser visto pelo viés turístico ou pelo estudioso(acadêmico) de turismo. Trata de enaltecer e engrandecer uma característica marcante no discurso ideológico capitalista das décadas de 1990 e 2000:empreendedorismo.
Vale destacar (e questionar) o usuário do blog que for efetivar a leitura do livro que a obra em si é usada e indicada em cursos que ensinam a manipular e manter o sistema do capital e perpetuar seus valores - como administração, marketing, gestão de pessoas entre outros - tão procuradas por jovens na atualidade.
Considerada a obra mais completa do gênero já editada no Brasil, e com a EDITORA SENAC tinha como objetivo de permitir que profissionais pudessemcompreender melhor a história de Walt Disney e seus empreendimentos. Enfim, vale ser lido com um olhar que busque a história do desenho animado nos EUA mas não esgota o enorme conteúdo existente sobre essa categoria da sétima arte.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

The Story of Stuff. (A História das Coisas)


Dados técnicos - The Story of Stuff

Diretor/Produtor – Annie Leonard.
País – Estados Unidos.
Ano – 2007.
Tempo – 00:21:18.




Resumo: Este vídeo mostra os problemas sociais e ambientais criados como consequência do nosso hábito consumista, apresenta os problemas deste sistema e mostra como podemos revertê-lo, porque não foi sempre assim. Trata-se de uma excelente ferramenta de apoio para conscientização dos alunos em sala de aula. Também é, sem dúvida, uma oportuna e didática fonte de informação para Pais e Educadores de todos os níveis e áreas de atuação. O modo como foi é elaborado o filme, uma animação bem dirigida, clara, bem humorada e dublada, permitirá que mesmos as crianças pequenas, não alfabetizados, tenham acesso ao conteúdo. Nessa oportunidade, educadores e pais se encarregarão de lhes esclarerem os pontos que julgam obscuros, ou de entendimento duvidoso, coisa comum entre aqueles que ainda estão aprendendo como funcionam as engrenagens do nosso mundo. De fato, uma valorosa contribuição para conscientização de nossas crianças, jovens adultos, sobre a verdadeira realidade social que nos cerca, e que alguns fazem questão de ocultar(Fonte: Vídeos Educativos)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

A flor mais grande do mundo.


Dados técnicos - A flor mais grande do mundo.

Diretor/Produtor – Juan Pablo Etcheverry.
País – Portugal. 
Ano – 2007.
Tempo – 00:09:49.



Resumo: A belíssima animação "A flor mais grande do mundo" é inspirada em um dos contos do escritor José Saramago e trata de forma simples e educativa sobre a necessidade de se importar com questões ambientais e do nosso papel como ser humano responsável no mundo de hoje. Apesar de simples, a curta carrega em si uma grande reflexão: "E se as histórias para as crianças passassem a ser leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que á tanto tempo têm andado a ensinar?". Vale a pena conferir.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Trabalho Febril.

Dados técnicos - Trabalho Febril. 

Diretor/Produtor – Lápis UFSC.
País – Brasil.
Ano – 2007.
Tempo – 00:07:43.



Resumo: Animação em stop motion produzida na Oficina de Vídeo-Historia de 2007, oferecida pelo LAPIS - Depto de História/CFH/UFSC, Florianópolis. O vídeo busca discutir as condições de trabalho e de produção trazidas pela Revolução Industrial através da história de um artesão que se vê obrigado a ingressar em uma fábrica. (Fonte: Lápis - UFSC).

terça-feira, 8 de abril de 2014

Filosofia para jovens – Uma iniciação à Filosofia.



A obra que indicamos é útil para jovens (de qualquer idade) e leitores curiosos e incomodados acerca da existência humana. É natural do ser humano o ato de pensar e filosofar no cotidiano e, portanto, andar por esse caminho munido de métodos e ideias/luzes garante passos firmes, objetivos sólidos e seguros. 
Clarear os objetivos do ser humano sobre a vida pessoal, como personagem social, como ser político e indivíduo pertencente a um grupo ou classe social é uma das propostas do livro. A frase de Martin Heidgger “O homem é um ser caminhante, e ao caminhar tem sempre um pé no ar e um pé no chão”, cabe bem a essa proposta que proporciona discutir temas atuais como liberdade, morte, religião (e religiosidade), amor (e paixão), felicidade, ideologia e alienação... Esses temas permeiam nossas vidas e mentes e não tem como nos isolarmos ou sermos indiferentes a eles, pois dependemos das escolhas que fazemos frente aos desafios que o mundo nos apresenta...
Na orelha do livro vemos um esclarecimento sobre a didática e proposta de abordagem: “Além dos capítulos que versam sobre assuntos como liberdade, moral, felicidade, religião etc, a autora sugere exercícios de autores apreciados pelos jovens. Embora simples e estreitamente ligado aos interesses da juventude, o livronão foge à didática perfeita e aos conceitos importantes e necessários para quem se inicia na filosofia”.
Um encaminhamento interessante ao final do livro é que a autora mostra uma trajetória histórica da filosofia e aponta estudos que devem ser seguidos a essa iniciação.
E se o leitor se interessar sugerimos a continuação desse estudo com o livro "O Cinema pensa", de Julio Cabrera que é um olhar da filosofia sobre a sétima arte...

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Rua das Tulipas.

Dados técnicos - Rua das Tulipas. 
Diretor/Produtor – Alê Camargo. 

País – Brasil.
Ano – 2008.
Tempo – 00:10:19.



Resumo: O curta mostra a vida na pacata Rua das Tulipas e tem como protagonista o professor Paulino, um homem que realiza os sonhos de todo mundo com suas invenções, mas se esquece do seus próprios sonhos. A curta remete a nossa vida, onde às vezes fazemos as vontades dos outros, mas nós esquecemos das nossas. (Resenha por: Davi Mota).

domingo, 6 de abril de 2014

Tram. (Bonde)

Dados técnicos - Tram.
Diretor/Produtor – Michaela Pavlatová e Ron Dyens.

País –   França, República Tcheca.
Ano – 2012.
Tempo –  00:07:50.

Curta ainda não disponível.

Resumo: É um dia rotineiro para a condutora do Bonde. Como em todas as manhãs, os homens entram e saem para trabalhar, um após o outro, todos parecidos, quietos, cinzentos. E, mesmo assim, a condutora fica terrivelmente excitada. (Fonte: Catálogo 2012 - Anima Mundi)

sábado, 5 de abril de 2014

Morte e vida Severina.


Dados técnicos - Morte e vida Severina.

Diretor/Produtor –  Afonso Serpa.
País – Brasil.
Ano – 2010.
Tempo – 00:55:00.


Assistam ao curta:



Resumo:
 Versão em animação do poema “Morte e vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. Com trilha sonora de Lucas Santtana e com o ator Gero Camilo dando vida ao personagem principal, o Severino. É um belíssimo desenho que vale a pena assistir por sua qualidade de produção e por tornar interessante a também bela obra de João Cabral, e uma forma diferente de aprender sobre esse clássico da literatura. Mas, isso não exclui a necessária leitura dessa obra gigante. Uma sugestão: leia o livro, assista o desenho animado e dialogue com seu (sua) professor(a). (Fonte: Catálogo 2012 - Anima Mundi)